terça-feira, 14 de outubro de 2008

CV

Ando a fazer pesquisas na net, enviando o meu CV por e-mail para onde parece-me interessante.

No meu CV tenho lá escrito que tenho problemas de audição.
Antes de o ter escrito, quando estava acabar o curso, pedi opiniões a algumas pessoas sobre o que achavam em eu indicar no meu CV que oiço mal.
Apesar de à primeira vista não se notar o meu problema, decidi colocar no CV. Porquê?
Porque não sou exactamente igual aos ouvintes. Não atendo chamadas, por exemplo. Preciso de estar mais atenta em reuniões, de ler os lábios, etc. Sou diferente que o “normal”.
E se houver um emprego em que é preciso alguém que ouve bem, então eu e a entidade deixaríamos de perder tempo porque ambos sabemos que eu não estaria apta para a função. Ponto final.
Depois, o CV está sincero assim. Diz o meu problema, e eu não tenho problemas em dizê-lo. Faz parte de mim.
Há também empresas que beneficiem ao empregar pessoas como eu. Não sei muito bem como isto funciona, mas já ouvi falar.

À pouco tempo uma senhora respondeu à minha candidatura numa empresa, por e-mail.
Quando esta soube que eu não falava ao telefone por causa do meu problema disse assim num mail:
“...Como referiu que tem problemas de audição, está em condições para manter uma conversa durante a entrevista?...”
Fiquei PARVÍSSIMA!!!!! Mas que raio de pergunta????!!!!!
Condições?!! É que a pergunta não faz-me sentido NENHUM!!!!!!! Grrrrrrrrrr
Foi a primeira vez que aconteceu algo do género... será que foi a maneira dela de despachar-me?
Enfim! Há aí montes de oferta, o que me ofendeu foi apenas a pergunta..

O meu problema é sensorial, é físico da parte do ouvido; não sou retardada, não me falta inteligência!!!!!!!!!!!

Já lerem o meu CV e ficaram impressionados “...diz-me uma coisa.. tu ouves mal... como é que conseguiste saber tocar trompete e piano?”.
As pessoas ouvem “sou surda”, e ficam logo a pensar que sou completamente surda, que nada oiço. Mas não é assim!
Há montes tipos de surdez, de ligeira a profunda. E entre destas as suas variáveis.
Por acaso, quando eu aprendi tocar piano e trompete, ouvia com as próteses auditivas.
Mas agora é preciso ouvir muita bem para saber tocar um instrumento???
Quando é só preciso saber/poder soprar, ou ter mãos (ou pés.. qualquer coisa que possa tocar um piano)?

É preciso ouvir para saber/poder falar? Nem por isso! Conheço uma professora que é surda profunda, nem sequer tem os ouvidos completos, e nada há a fazer para ela poder ouvir bem, ou alguma coisa. E no entanto, como na altura a LGP era proibido, ela sabe falar! Não fala tão bem, mas percebe-se e consegue ter uma conversa “normal”!
Eu fico fascinada. Pois, é que eu também não sabia que podia-se aprender a falar sem ouvir nadinha toda a vida.

Quando digo que sei ler os lábios, há muita gente que diz que é muito difícil, e tal.
Para mim não foi nada difícil, porque foi e é uma necessidade minha para entender as pessoas. Aprendi sozinha, com o tempo.
Quando a gente precisa/necessita de algo, conseguimos ter.

Há certos sons que eu oiço, vou perguntar ao pessoal o que é. E só passado um bocado de tempo é que dizem o que é. Porque devem estar a tentar ouvir... ouvem bem, mas para eles já é algo que se escapa por ser algo que não lhes interessa.

A mesma cena se passa com tudo na vida.
Tudo está ao nossa alcance, e mesmo assim a gente não “vê”, não “ouve”, não “sente”, não “percebe”...

1 comentário:

Anónimo disse...

"Tudo está ao nossa alcance, e mesmo assim a gente não “vê”, não “ouve”, não “sente”, não “percebe”."

é isso mesmo... quando entrei pa faculdade os meus profs estavam sempre a dizer, não olhem, vejam as coisas... e há aquele ditado... "Deus esta nos pormenores..." não é necessário ser crente para perceber a mensagem.
as vezes é preciso aprender a ver, a ouvir, a sentir para perceber que há mais do que aquilo a superfície mostra...

tenho q falar contigo sobre o CV, saber pormenores, tenho que começar a fazer o meu, em Setembro já quero estar a fazer o estagio!